quinta-feira, novembro 11, 2004

Carta Para um Amor Ausente

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Desculpa se nada tenho para te dizer quando te olho nos olhos e fico simplesmente a admirar a sua beleza. Perdoa-me se aquilo que sinto por ti não cabe nem em todas as palavras que inventaram neste mundo e no outro, qualquer que seja a língua ou dialecto.

Crucifica-me por te achar a mais bela de todas as mulheres que caminham à face da terra e por dizê-lo sem medo a quem quer que seja.

Sim, irei arder nas chamas do inferno se tudo isto são pecados ou ofensas à tua pessoa. Não desejei, em momento algum, mais do que amar-te, fazer-te sentir desejada, fazer-te feliz. E apenas por isso estou como estou, sem as tuas palavras doces, sem o teu olhar meigo, sem mais nada que as recordações que guardo preciosamente do tempo que passamos juntos.

Passo noites sem dormir só para pensar em ti, vasculhando a minha memória em busca de imagens tuas que ainda não tenha recordado. A agonia do tempo vai destruindo, aos poucos, essas imagens, qual fotografia antiga esbatida pela humidade.

Choro! Claro que choro. Choro muitas vezes aparentemente sem razão porque qualquer raio de tristeza inunda a minha face e passo longos momentos a chorar enquanto recordo os momentos que passámos juntos.

Será que ainda te lembras dos sonhos que criamos naquele dia à beira-mar? Calculo que não, nem sequer te lembras das promessas que me fizeste, quanto mais de “coisas insignificantes” como os sonhos.

Sim, agora percebo. Como poderíamos alguma vez ficar juntos se não acreditas em sonhos, se os desprezas e ignoras em prol da tua “sempre tão certa” racionalidade?

Sabes, agora que penso bem, os teus olhos nem são assim tão meigos, nem as tuas palavras tão doces. E tu, tu nem és assim tão bela. (Devo dizer que a rapariga que acaba de passar tem um nariz muito mais bonito que o teu!!!)

Sim, agora percebo. Não fui mais que “mais um”, outro tolo que te idolatrava e servia para os teus caprichos enquanto não te cansaste. Depois, passei a ser apenas mais um que se achava importante.

Pois então fica sabendo, agora sou eu quem te ignora, agora é a minha vez de te desprezar (até porque a rapariga do nariz bonito está a olhar para mim), não esperes mais palavras de mim, não fiques à espera que continue a perder o meu sono só para pensar em ti.

Agora vou dormir dias inteiros só para sonhar (e quem sabe se não vou sonhar com aquele nariz…), vou ter tempo para ver o tempo passar por mim devagar, as minhas memórias vão ganhar cor.

Ah! Agora sim vou voltar a viver…