quinta-feira, novembro 11, 2004

Carta Para um Amor Ausente - II

II

Dias e dias sem te ver. Acho que podia jurar que passaram anos, e mesmo anos depois o meu coração doía só de pensar em encontrar-te, só de achar-me sozinho no meio da noite.

Percorria então centenas de quilómetros para te abraçar, completamente consumido pela saudade, refém de um sentimento que almejei chamar amor, sentimento esse para o qual não tenho nome.

Continuas bonita como sempre, com aquele olhar que desmancha qualquer disfarce, qualquer postura de força, e eu apenas resisti porque fugi. Contava os segundos até que o silêncio entre nós se tornasse constrangedor, aquele momento em que ambos sabemos qual vai ser o tema da conversa, um tema que nenhum de nós quer abordar porque não temos a certeza daquilo que sentimos, de tal modo que nem temos uma palavra para esse sentimento.

Por mais que tente estás demasiado entranhada na minha memória, e só uma enorme pancada e graves danos poderiam provocar-me uma amnésia suficientemente grave para te esquecer.

Sim, é verdade que sigo em frente, vivo a minha vida da melhor forma possível, que não estou no tal estado catatónico que acontece sempre a seguir à desilusão, a seguir à ruptura, mas acho que evoluí para um estado catatónico diferente em que não tenho a percepção do mundo sentimental que me rodeia, tudo são objectos, meros instrumentos que me são oferecidos para manipular consoante a minha vontade. De tal forma este estado é forte que me recuso a viver naquele mundo lá de fora só para não magoar ninguém, pelo menos esta é a desculpa que dou a mim mesmo para tais comportamentos.

E não é que resulta????

Estou a dar-me bem comigo mesmo, suporto-me. Naturalmente que o facto de apenas lidar comigo mesmo apenas num nível profissional também ajuda, mas acho que me conheço agora como nunca, sei (ou vou sabendo) o que quero e onde quero chegar. Coloco-me em primeiro lugar na lista de prioridades, sou o que de mais importante tem a minha vida, e tenho de confessar que sem a tua ajuda não teria conseguido, se não me tivesses magoado tanto, se não me tivesses desiludido continuaria a achar que eras a mais forte razão para viver. Assim, tornei-me independente (a minha única dependência regressou com a tua ausência, os meus cigarros), apenas levemente agarrado ao meu trabalho.

Acho que nunca pensei dizer isto, mas…. Obrigado!