quinta-feira, novembro 25, 2004

Quem é afinal William Jack - Eu Já Vi Este Céu - I

“Eu já vi este céu”

Capítulo I

Gosto de me sentar aqui, como agora para simplesmente não fazer nada. Por vezes são estes momentos de pura apatia que nos levam a alcançar grandes decisões e nos proporcionam grandes descobertas. Em quase todos estes momentos algo de melhor e mais forte e agradável surge, e nem sempre custa muito.

Muitas vezes consigo ficar horas sem fazer, nem pensar em absolutamente nada, ou então sou bombardeado de ideias e pensamentos que não consigo raciocinar.

Mas nada disso interessa quando o vazio nos invade e nos faz sentir como a mais ínfima parte deste universo que por si só já deve ser infinito. É esse vazio que nos impulsiona ou precipita, que nos faz virar costas ao abismo ou saltar de olhos fechados. É esse vazio que nos preenche e ocupa os nossos momentos de solidão, mesmo quando existe alguém que nos faz sentir, por breves instantes, que somos alguém.

O vazio leva-nos ao outro extremo: o mais repleto preenchimento que se pode alguma vez sentir. Há quem lhe chame Amor, outros optam por desprezá-lo, considerando-o um simples capricho que é comum nos seres fracos e inferiores. Li hoje um mail sobre virgindade, não no sentido físico que sempre atribuiremos à palavra, mas num sentido muito mais figurado e que tenderá a ser perene caso a nossa sociedade evolua culturalmente. A nossa virgindade é e será sempre parte de nós, porque a cada momento da nossa vida somos enfrentados por novos desafios que nos proporcionam novas experiências, novas perdas de virgindade: a virgindade no amor, a virgindade na ausência de amor, a virgindade da paixão e a virgindade da perda de paixão. Acho que já dei exemplos suficientes para me fazer entender, ainda que esteja consciente que tudo isto não passa de um texto escrito às 2:44 da manhã e que não tem sentido nem objectivo nem qualquer outra presunção possível que não seja o meu prazer de escrever. Posso estar a parecer egoísta, mas estou certo que qualquer escritor, ao escrever um romance, procura prazer na sua escrita, não obrigatoriamente a escrita destinada às massas.

Posso dizer orgulhosamente que do alto dos meus 22 anos, já tenho experiências de vida capazes de preencher uma larga dezena de páginas, e talvez seja isso mesmo que eu vá fazer nestas páginas: partilhar as minhas experiências de vida e até as que chegaram até mim na forma de “um amigo meu ouviu dizer que”.

Não sei muito bem por onde começar. Para mim sempre foi muito complicado escrever dia após dia sobre o mesmo tema, pelo que não faço a menor ideia de como é que isto se faz.

Penso que as histórias sobre venturas e desventuras amorosas são sempre engraçadas de escrever e de ler. Poderia contar meia dúzia de histórias engraçadas sobre as minhas ex-namoradas ou apenas sobre meros encontros furtivos que ocorriam em noites isolada. Penso que é melhor começar com uma história que me contaram. Dois jovens em plena descoberta dos seus corpos, dos seus espíritos e dos seus sentimentos. Aquilo que sentiram foi algo estranho mas, próprio da idade, não tentaram encontrar uma resposta que lhes desse uma luz sobre o que se passava. Quando deram conta estavam terrivelmente apaixonados e fisicamente separados por alguns quilómetros que ainda demoravam algum tempo a percorrer. Foram mantendo o contacto e teimosamente acharam que continuavam apaixonados e foram lutando contra tudo e contra quase todos, mas lutavam acima de tudo contra eles mesmos, contra a sua natureza selvagem que lhes fazia desejar liberdade, ao mesmo tempo que tentavam acorrentar-se um ao outro.

Alguns anos passaram e eles continuavam em contacto, e o tempo que tinham estado juntos, todo somado, não chegaria para fazer um mês, nem que fosse um Fevereiro muito pequeno. Sem que dessem por isso, passaram a “amar-se” só por teimosia, tinham passado tanto tempo a lutar para ficarem juntos que não fazia sentido desistir de tudo isso agora. Já que lutaram pelo menos que tenham algum proveito.

Entretanto a distância tornara-os bons amigos, mas também os tornou estranhos. Sentiam que não se conheciam, que do outro lado do mundo estava alguém diferente do companheiro de batalha. Foram perdendo batalhas atrás de batalhas, umas vezes por falta de comparência, outras porque pura e simplesmente não lhes apetecia lutar. Acho que não preciso de dizer muito mais. No entanto, segundo diz o meu amigo, eles continuam a ser os mesmos teimosos que eram quando se conheceram, pelo que nunca se sabe o que o futuro lhes reserva. Quem sabe se não estarão dispostos a cometer os mesmos erros apenas em nome dos velhos tempos.

Agora eu deveria reflectir sobre a história que acabo de vos contar, mas sinceramente, quem sou eu para vos dizer o que devem pensar. Tirem as vossas ilações e usem-nas como vos parecer mais correcto.

Mas esta foi uma história muito breve, apenas para vos adormecer um pouco e para eu aquecer um pouco. Acho que agora já me sinto preparado para escrever algo realmente complexo e que vos pode ajudar em muitas situações.

Conheci-o pouco depois de acabar o secundário e dar entrada na mais antiga universidade do país.

Conhecemo-nos como que por acaso e fomos mantendo contacto regular e partilhámos bastantes histórias. Chamava-se William Jack!