quinta-feira, janeiro 20, 2005

Eu Já Vi Este Céu - Capítulo VI

Capítulo VI

Descobri por mim que a vida é extremamente preciosa e que deve ser tratada como tal. Nada neste mundo merece que a estraguemos ou que decidamos que está na altura de ela acabar. Mas isso não quer dizer que eu esteja em desacordo em relação à eutanásia, bem pelo contrário. Se é um facto que a vida é uma dádiva, e bem preciosa por sinal, também é um facto que só a nós ela pertence. Foi um presente que os nossos pais nos ofereceram e nada nem ninguém deve ter mais poder sobre ela do que nós próprios.
Enquanto que hoje, naquilo a que muitos podem considerar como o auge da vida, os anos de ouro, eu me sinto honrado por estar vivo e mais ou menos de perfeita saúde, ninguém sabe o dia de amanhã. Quem sabe amanhã não estou prestes a morrer com um sofrimento desmesurado e quero que esse sofrimento acabe depressa. Mas o mesmo se passa com vários jovens que se suicidam, pois consideram que o sofrimento é demasiado para as suas capacidades, e ainda teriam grandes anos pela frente. Mas quem sou eu para criticar quem não conheço, por razões meramente especulativas, só porque esse alguém decidiu que não quer mais ser honrado por uma dádiva?
Como tudo na vida existe um lado positivo e um lado negativo e não há nenhum que esteja completamente certo nem completamente errado. Se por um lado é absurdo prescindir da vida, por outro não há ninguém que possa interferir com essa opção pois a vida de cada um é património de cada um. Não vivemos numa ditadura em que o estado é dono e senhor das vidas dos seus habitantes, nem sequer estamos na época da Santa Inquisição em que Deus era dono e senhor dos destinos de cada um de nós. Trata-se de uma questão de respeitos mútuo enquanto seres humanos. Eu tenho de respeitar quem se quer suicidar da mesma forma que tenho de respeitar quem opta pela vida mesmo que seja de sofrimento. Talvez pareça absurdo que alguém viva dias, ou meses num sofrimento agonizante sabendo que o seu final é um só – a morte.
Passamos demasiado tempo a encarar a morte como um fim tremendo e horrível e tudo fazemos para adiar a sua chegada. Milhares de medicamentos e poções da eterna juventude que apenas servem para que as pessoas pensem que terão mais uns dias ou meses antes de chegarem ao ponto final que faz parte da vida. É como comprar um carro. Quando o compramos achamos que é o melhor do mundo e que é magnífico, mas desde o dia em que o comprámos sabemos que um dia vai deixar de andar, vai “morrer” e não há nada que possamos fazer contra isso. Aquilo que podemos fazer é estimá-lo e gozar cada dia em que o podemos utilizar. A mesma coisa se passa com a vida. Desde o princípio sabemos que não vai ser eterna, pelo que a única coisa a fazer é preservá-la o mais possível e aproveitá-la o mais que pudermos, só dessa forma poderemos chegar ao seu final com consciência tranquila: foi-nos dada uma dádiva e nós aproveitámo-la.
Não estou de forma alguma a tentar indicar um caminho como o melhor e o mais correcto. Quem sou eu para tal ousadia, nem que fosse deus me atreveria a fazer tal coisa. Somos todos diferentes, sentimos de modo diferente, queremos de maneira diferente, pelo que todos devemos viver de maneira diferente, mas o importante é viver, esse é o único conselho que eu dou, talvez não seja um conselho, esta será a única ordem que me atrevo a dar, VIVAM!