sexta-feira, maio 20, 2005

Eu Já Vi Este Céu - Capítulo XI

Capítulo XI

Dizia-me muitas vezes que a noite era a melhor conselheira que podia existir. “Não há nada como uma lua brilhando num céu completamente estrelado. No ar que respiras sentes que a natureza está viva e que existem animais e plantas que respiram e sobrevivem. E assim, sozinho contigo mesmo consegues encontrar as respostas que sempre procuraste e que pensavas não existirem.
Podes também fingir a noite e recorres a qualquer local onde a lua brilha sempre e sentes a vida a ser dada e retirada a cada instante. É nesses instantes que consegues abstrair-te do mundo que te rodeia e que perturba o pensamento e pura e simplesmente colocar essa matéria cinzenta livremente e por certo que as respostas chegarão até ti. Se assim não for é porque estás a colocar as perguntas erradas.”
Pareciam-me pensamentos de um velho que acha sempre que tem toda a razão do mundo pelo simples facto de que já esteve muitos anos a respirar, mas agora que paro quase todas as noites uns instantes para pensar, muitas vezes sem sequer colocar qualquer pergunta, acabo por perceber que assim é.
Neste silêncio que me rodeia, só quebrado pelos acordes de músicas que escolhi para a ocasião, sinto que não há motivos para ser forte e para não chorar se sentir necessidade disso; não tenho motivos para fingir nem para ter medo porque não estou a magoar ninguém, nem a preocupar ninguém, estou apenas a ter um aceso diálogo comigo, uma catadupa de perguntas à espera de respostas que surgem do mesmo modo, uma viagem até partes de mim que durante grande parte do dia parecem não estar acessíveis e que afinal sempre lá estiveram, afinal também tenho alguém com quem conversar, mesmo no meio da maior solidão.
Por vezes ignoramos respostas porque não colocámos pergunta alguma, mas a verdade é que esse eu que se revela pela noite não age ao acaso, e tal como nós próprios tenta ser aquilo que sempre fomos sonhando ao longo dos tempos, e se as respostas surgem nesse momento é porque em breve virão a ser importantes para a resolução de problemas que eventualmente aparecerão. São como que breves e simples premonições.
Por esta altura já não devo estar a fazer grande sentido e as frases tornam-se confusas. É por esta altura que eu paro e pergunto a mim mesmo se existe alguma razão para continuar. Faço uma breve pausa para ouvir o silêncio que me rodeia enquanto espero pela resposta…
E a resposta é:
– !

Nem sempre as respostas que encontramos são as mais agradáveis de ouvir e pensamos que nos enganámos na pergunta ou simplesmente encontrámos a resposta errada. Mas parte de nós continua a acreditar que aquela resposta é a correcta.
Nessas alturas chega-nos uma espécie de desconforto e preocupação. E esses sentimentos servem sobretudo para que nos habituemos, para que possamos chorar baba e ranho e no final acabemos por aceitar, sem porém fazer uma última tentativa, apelando a tudo aquilo em que acreditamos e em que não acreditamos, com uma vã mas real esperança, uma última tentativa de alterar um destino que parece incontornável.
Por vezes saber as respostas leva a que evitemos as perguntas, mas também nos pode levar ao ponto em que a força de vontade é tão grande que é possível mudar o destino que aparentemente já teria sido tecido num enorme tapete. Ficamos, no entanto, com mais incertezas e o facto de não aceitarmos a resposta que encontrámos pode levar ao desenrolar incontrolável do nosso destino, e as respostas que mais tarde vamos encontrar serão certamente (ou talvez não) muito mais dolorosas do que a inicial.
Mas por que raio é que eu estou a escrever sobre respostas e sobre o destino? Não sei se acredito no destino, nem em respostas antecipadas a perguntas futuristas, mas o facto é que hoje encontrei uma resposta que não estava preparado, ou não queria estar preparado para ouvir. Então, caso exista destino, e caso seja possível alterá-lo, o melhor é começar a reunir forças para o fazer, porque vai ser uma batalha difícil e feia, mas que vou travar como se fosse a última, e vou travá-la com todas as forças que tiver e com todos os meios que sejam possíveis e imaginários.
Talvez ganhe, talvez perca, mas de qualquer maneira vou poder dizer que tentei de tudo, até alterar o destino de quatro pessoas de uma só vez!